Segundo Ato : Gustavo Rabelo e a tecitura sinestésica da poesia
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Quando em 1999 o primeiro livro de Gustavo Rabelo veio a público, nada houve de acaso. O jovem escritor de Taguatinga já estava desde sempre destinado a viver para a poesia. Antologia do acaso (1999) é um pequeno livro que traz em suas páginas poemas de significativa grandeza, a anunciar um poeta de enorme criatividade e sensibilidade para brincar com as palavras, com as sensações e com os sentimentos.
Tão intenso quanto foram os mais fervorosos românticos, Gustavo Rabelo revisita a lírica-amorosa e atribui a ela um novo valor, um novo olhar que transita entre a delicada ingenuidade dos primeiros amores adolescentes e o erotismo dos amantes mais ardentes da juventude, sempre deixando latentes sensações arrebatadoras e febris.
Na poesia de Gustavo Rabelo, a ação de tear é sinônima a de escrever. Como o tecelão cose fio a fio, dando vida a uma nova trama surpreendente, este poeta cambaio une palavra a palavra e forja um novo tecido de sentido, significações, sensações e sentimentos que se correlacionam e dão vida a um novo fato poético que surge da escuridão do limbo e lentamente ganha vida e vem à luz, como nasce o dia em meio à lenta aurora do raiar do dia. Nasce do mais íntimo do lirismo poético, dos seus sonhos, de forma pura, original, nunca possuindo uma sentido definido, tal qual nuvem esculpida pelo vento. Nasce na forma de uma trama ainda não contada, límpida, de onde emanam sugestões subliminares de sentido. Simboliza a esperança do poeta no poder que reside na existência da poesia e tudo o que ela é capaz de nutrir no outro que a lê, que a recebe e por seu tecido é envolvido. Fazer poesia é ainda ter crença no futuro, falando sobre as possibilidades do presente por meio de um olhar que vê o que há na essência das coisas e dos acontecimentos. Tecer o poema é tecer uma nova iluminação, o esclarecimento, que pode vir a ser a vida. É este poder de provocar vida que o poeta cambaio Gustavo Rabelo parece desejar que emane de sua poesia. Um poder que ganha existência na forma densa, viva, palpável e imensa do amor que é verdadeiro e imensurável.
Na poesia de Gustavo Rabelo, tudo pulsa e flui tendo o amor como motivação e finalidade imperativa. Mesmo a maior das forças impostas pela Natureza, o tempo, não consegue sobrepujar o maior dos sentimentos.