Sexto Ato : Nicolas Behr e a Poesia Marginal de Brasília
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A obra de Nicolas Behr tem alguma coisa risível e engraçada, mas parece pouco sensível. Parece mais objeto e muito pouco sentimento. Parece mais apropriação de outros do que criatividade original. Tem alguma ironia, no entanto é muito pouco consistente. Parece fria como pode ser frio o concreto da Brasília que tem algumas formas criativas e inusitadas, mas que, em seu interior, existe um vão. Uma literatura em que há o mesmo vazio de humanização das superquadras e largas avenidas. É entediante como a burocracia das autarquias e dos carimbos com frases feitas, siglas e cargos comissionados. Nestes sentidos, de fato, o obra de Nicolas Behr é uma manifestação artística que representa bem a identidade de Brasília.
É uma literatura que se configura em um exercício estilístico que nasce dos modernistas de 22, perpassa os concretistas dos anos 50 e 60, em textos preocupados com a forma, centrados em seus significantes, com pouca substância significativa. Uma literatura pobre em seus planos linguísticos, sintáticos, semânticos e estilísticos que parecem ser apenas pilotos – para aproveitar o trocadilho bem aos moldes do escritor Nicolas Behr –, parecem palavras e frases soltas de algo que poderia ser mais interessante se fosse desenvolvido. Por isto, após a leitura de alguns dos estudos feitos sobre a obra de Nicolas Behr, fica a sensação, senão a confirmação, de que as análises e os ensaios feitos pelos estudiosos, apesar da sobrevalorização da estética e do escritor de que tratam, são mais interessantes e muito mais significativos do que os textos analisados sem si. Os conceitos são muito maiores do que as obras, a exemplo da chamada Arte Conceitual que também influenciou a Poesia Marginal.
Fica, ao fim, a impressão de que esta Poesia Marginal de Nicolas Behr, de Francisco Alvim, de Luiz Turiba e os outros seus seguidores é uma manifestação que certamente tem seu valor histórico. Talvez algum valor artístico. Talvez algum valor político. Pode provocar alguns risos. Contudo soa ter pouco valor poético e literário. Não é tanto pela linguagem, pelo coloquialismo ou o prosaísmo que, segundo J. R. de Almeida Pinto (2002), caracteriza seu discurso, isto também é característica da rica poesia de cordel, mas é, principalmente, pela substância significativa desta Poesia Marginal que é, frequentemente, óbvia e rasa: beira a um enfadonho clichê. Uma manifestação artística bem menos inteligente e sensível do que ela se pretende e do que certos estudiosos, jornalista e a mídia locais pretendem vendê-la.